Por Trás da Farda - Francisca Pereira
Voa através dos olhos de Francisca Pereira, uma jovem tripulante de cabine com experiência em diversas companhias aéreas, incluindo Ryanair, Emirates e Hifly. Nesta entrevista reveladora, Francisca partilha não só os primeiros passos da sua carreira, desde a formação em turismo até à decisão de entrar na aviação, mas também os desafios e as alegrias que caracterizam a vida de quem trabalha acima das nuvens.
Início e Decisão pela Carreira na Aviação:
Formação e Motivação
Francisca, natural do Porto e com 24 anos, estudou Línguas e Humanidades no secundário, seguindo para uma licenciatura em Turismo. A paixão pela aviação surgiu mais como um interesse do que um sonho definido, culminando na decisão de experimentar a vida fora do país após a faculdade.
Início na Aviação
A escolha pela Ryanair foi estratégica, visando uma experiência internacional, dada a baixa probabilidade de ser colocada numa base em Portugal pela companhia. Francisca destaca o processo de candidatura online e a subsequente formação intensiva em Haan na Alemanha, uma surpresa visto que não se tinha candidatado a nenhuma base Alemã. No entanto refere ainda que é uma prática normal na companhia o que pode ser difícil dependendo da maneira como se encara o desafio.
Desafios no Curso de Piloto
Experiências de Formação
A formação na Ryanair revelou-se desafiadora, com um ritmo intenso que incluía testes diários, além dos exames regulares. Francisca realça o compromisso necessário e a pressão constante para desempenhar bem, sob pena de ser desligada do curso por insuficiência.
Desafios Profissionais
Trabalhar na Ryanair foi uma experiência gratificante para a Francisca, apesar da carga horária exigente e dos desafios logísticos, como acordar cedo e lidar com a rápida sucessão de voos. A dinâmica de trabalho, apesar de rigorosa, trouxe-lhe satisfação pessoal e profissional.
Experiência na Emirates
Processo de Seleção
O processo para entrar na Emirates foi mais exigente comparado com a experiência anterior da Francisca na Ryanair. Ela destaca que o processo começou com um teste online, seguido por uma fase de vídeo entrevista, onde tinha que responder a perguntas de forma genuína e natural. A entrevista final foi presencial, realizada durante um Open Day, onde foi importante a apresentação pessoal e a comunicação em inglês.
Formação Rigorosa
A formação na Emirates durou dois meses, um pouco mais longa do que na Ryanair. Este período incluiu treinos intensivos tanto em procedimentos de serviço quanto em emergências, com uma atenção especial à qualidade do serviço e à segurança. Francisca menciona o detalhe e a exigência da formação, desde a maquilhagem até à maneira de se apresentar com o uniforme.
Vida no Dubai
Francisca descreve a sua vida no Dubai como parte da Emirates de forma positiva. A companhia aérea providenciou alojamento e assistência em todos os aspectos da mudança para o Dubai, o que tornou a transição suave. Ela viveu em alojamentos fornecidos pela Emirates, que descreve como confortáveis e bem localizados.
Uniforme e Apresentação
Um aspecto único da Emirates é a ênfase na apresentação do uniforme e na aparência pessoal. Francisca detalha como o uniforme, incluindo o icónico chapéu com véu, representa os sete Emirados, e como o batom e o esmalte das unhas devem corresponder à cor do chapéu. Também descreve o rigoroso controle de qualidade, desde a inspeção do uniforme até a etiqueta dos sapatos.
Experiências de Voo
Francisca teve a oportunidade de trabalhar em diferentes classes de serviço na Emirates, incluindo a Economy e a recém-introduzida Premium Economy. Ela compara a experiência de serviço na Emirates com a da Ryanair, destacando a diferença no nível de detalhe e personalização do serviço oferecido aos passageiros.
Experiência na Hifly
Transição
Após uma pausa de dois meses, necessária para recuperar fisica e mentalmente das exigências da sua experiência anterior, Francisca decide candidatar-se à HiFly, motivada pela curiosidade em experimentar a aviação charter e pelo desejo de retornar a Portugal.
Processo de Seleção
O processo de seleção na HiFly foi descrito como intensivo e competitivo, com várias fases eliminatórias que testavam não só os conhecimentos e competências dos candidatos mas também a sua apresentação e postura. Francisca destaca a importância de mostrar profissionalismo desde o início, referindo que muitos candidatos foram eliminados nas fases iniciais por detalhes aparentemente menores, como manuseavam o telemóvel ou a sua atitude na sala de espera.
Formação e Adaptação
A formação na HiFly foi uma experiência nova para Francisca, onde teve a oportunidade de conhecer melhor a dinâmica dos voos charter e adaptar-se a uma nova cultura empresarial. A experiência na Emirates, com os seus rigorosos padrões de serviço e apresentação, ajudou-a a destacar-se e adaptar-se rapidamente às expectativas da HiFly.
Diferenças Culturais e Operacionais
Comparativamente à Emirates, a HiFly tem uma escala menor e uma abordagem diferente relativamente à operação de voos e à gestão de tripulação. A experiência de voar para destinos variados e lidar com um tipo de operação mais flexível foi algo que Francisca valorizou, oferecendo-lhe uma perspetiva diversificada sobre a aviação.
Desafios e Satisfações
Apesar dos desafios inerentes à adaptação a uma nova companhia e ao trabalho em voos charter, que exigem muitas vezes maior versatilidade e adaptabilidade, Francisca expressa satisfação com a sua decisão de juntar-se à HiFly. Valoriza especialmente a oportunidade de estar mais próxima de casa e a experiência de trabalhar numa companhia aérea portuguesa, com colegas que partilham uma herança cultural comum.
Conselhos para Futuros Tripulantes
Sejam Autênticos
Francisca enfatiza a importância de ser genuíno e honesto durante o processo de seleção e entrevistas. Muitas pessoas tentam apresentar uma versão idealizada de si mesmas ou até mentem para parecer mais adequadas para o papel. No entanto, a sinceridade e a autenticidade são valorizadas pelas companhias aéreas, que buscam candidatos que sejam verdadeiros em relação às suas capacidades, experiências e motivações.
Preparação e Profissionalismo
Ela aconselha uma preparação rigorosa e uma apresentação profissional desde o início. O setor da aviação é extremamente competitivo, e detalhes na postura, apresentação e capacidade de comunicação podem fazer uma grande diferença. A progressão no domínio do inglês, por exemplo, é crucial, assim como a capacidade de se adaptar e responder de forma coerente e confiante durante as entrevistas.
Paixão e Resiliência
Francisca destaca a necessidade de ter uma paixão genuína pela aviação e pelo papel de tripulante de cabine. Esta carreira vem com os seus desafios, incluindo longas horas, horários irregulares, e momentos em que é necessário lidar com situações difíceis a bordo. Apenas aqueles que têm um amor verdadeiro pela profissão e uma forte resiliência são capazes de superar esses obstáculos e encontrar satisfação no trabalho.